domingo, 18 de fevereiro de 2007

Curiosidades sobre a Língua Portuguesa: O Idioma Português no Sri Lanka (Primeira Parte)

A expansão portuguesa pelo Mundo durante os séculos XVI e XVII deixaram marcas que até ao dia de hoje permanecem reconhecíveis e que fazem parte do património linguístico da nossa língua. Quem poderia imaginar que o Português fosse falado ainda que numa versao crioula (Patois) num país tão longínquo como o Sri Lanka (conhecido antes como o Ceilão)? Pois é. É verdade sim senhor. É uma história bastante interessante, cheia de aventuras ao estilo desses contos repletos de marinheiros, exploradores e missionários.

Vejamos, os portugueses chegaram ao Sri Lanka em 1505 numa expedição comandada por Lourenço de Almeida que foi, nesse então, bem recebido pelo rei de Kotte Vira Parakrama Bahu. Os "portuguesinhos" ficaram impressionados pelo valor estratégico que esta ilha teria nas rotas comerciais das especiarias que tanto almejavam controlar. Em 1518, os portugueses foram permitidos construir um Forte na zona de Colombo e foram-lhes ainda dadas garantias de que podiam comercializar com os nativos da ilha.
As disputas políticas entre os diferentes reis da ilha levaram gradualmente a um fortalecimento da presença portuguesa na ilha. Os lusitanos compreenderam bem o princípio de"dividir para reinar". Nessas lutas os portugueses foram fazendo aliados nativos e estes por sua vez compreendiam a importância que tinha a presença militar portuguesa na sua terra para a sua segurança.
Houve então um tratado entre o rei de Portugal D. João III(1543) e o rei Bhuvanaika Bahu. Nesse acordo os portugueses saíam beneficiados com o monopólio da Canela e dos Elefantes. Em troca os portugueses asseguravam a protecção do rei de Kotte face aos seus inimigos. O filho de Bhuvanaika Bahu era o príncipe Dharmapala. Este foi criado por franciscanos e converteu-se assim à fé católica.
Em 1580, os portugueses já tinham tomado o controle total da ilha e o rei de então (Dharmapala) fora coagido antes de expirar, de abdicar do seu reino em favor do domínio português.
Os portugueses foram capazes de controlar toda a ilha com a única excepção das terras altas do centro do território insular. Durante a sua permanência os lusitanos tiveram uma política de miscigenação com as mulheres cingalesas (nativas da ilha)e isto teve como consequência uma transculturalizaçao sem precedentes na Ásia. O filhos deste tipo de união passavam a ser bilingues, falando o português e a língua da Ilha. Foram os seus descendentes que conservaram os hábitos e as tradições lusas na ilha. Não podemos esquecer também que os frades franciscanos tiveram aqui um papel muito importante não só na divulgação do idioma, mas também da religião católica. Muitos foram os cingaleses, especialmente os membros da nobreza cingalesa, que adoptaram a fé trazida pelos missionários portugueses, fazendo-se batizar e adoptando nomes e apelidos portugueses, sobretudo nas comunidades de Jaffna, Mannar e nas regiões costeiras e piscatórias de Colombo. Entre esses missionários portugueses temos que destacar: Frei José Vaz (conhecido como o "Apostolo do Ceilão"), Frei José de Menezes e Frei José de Carvalho, mais tarde chegou Frei Jacomé Gonçalves.
Muitos anos antes de que começasse o verdadeiro domínio desta ilha por parte de Portugal, o famoso cronista de viagem João de Barros escrevera nessa época quase que com uma lucidez profética o seguinte:


"As armas e os pilares portugueses postos na África e na Ásia e em inúmeras ilhas para além dos limites dos três continentes, são coisas materiais que o tempo acabará por destruir. Mas o tempo não destruirá a religião, os costumes e a língua que os portugueses têm implantado nessas terras"


João de Barros (1540)


Na próxima parte falaremos da evolução da língua portuguesa nesta região do mundo.


Rainer Sousa

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