sábado, 17 de fevereiro de 2007

Poema da Semana: "Quadras Populares de António Aleixo"

Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.


Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.


P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.

A vida na grande terra
corrompe a humanidade.
Entre a cidade e a serra
prefiro a serra à cidade.

Para não fazeres ofensas
e teres dias felizes,
não digas tudo o que pensas,
mas pensa tudo o que dizes.

Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.

Quando te vês mal, e dizes
que preferias a morte,
pensa que outros menos felizes
invejam a tua sorte.

Sei que pareço um ladrão.
Mas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.

Nota do Professor:
António Aleixo foi um homem humilde e pouco letrado, mas as suas quadras estão cheias de uma filosofia e sabedoria muito popular que merece a nossa reflexão.


Rainer Sousa


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